As idéias de Durkheim relacionadas ao desenvolvimento: uma análise sociológica
Em tempos atuais é pertinente lembrar as análises sociais que Émile Durkheim já fazia no início do século XX, influenciado pelas conturbações de seu tempo causadas pelas Revoluções Francesa e Industrial. A idéia central de seu pensamento é a de que a humanidade avança para o aperfeiçoamento pela força do progresso. Princípio herdado da filosofia iluminista.
Durkheim desenvolveu um método de investigação dos acontecimentos sociais e estabeleceu um objeto de estudo: os fatos sociais. Ele desejava que a sociologia, como as outras ciências, tivesse um objeto específico que pudesse ser observado e explicado e que a distinguisse das demais (DURKHEIM, 2002).
Fatos sociais são as maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo sobre este, formando assim a consciência coletiva que é a soma de todas as consciências sociais, ou seja, é criada a partir de como a sociedade percebe a si mesma e ao mundo. Define:
"Fato social é toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral do âmbito de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo uma existência própria, independente das suas manifestações individuais" (2002:65).
Uma sociedade pode ser representada pelo direito, pelas instituições, as crenças, tudo que tem igualmente, e como característica, o fato de serem exteriores aos indivíduos e de se imporem sobre todos.
Na obra, "Da divisão do trabalho social" (1893), o autor demonstra claramente a influência de Augusto Conte. O tema central desta é a solidariedade dita mecânica e a orgânica. Antes de analisarmos essa solidariedade devemos ter em mente que dentro de nossa consciência há duas consciências, uma que é coletiva, comum a todo o grupo, isto é, a sociedade vivendo e agindo sobre nós, pressupõe-se individualidade nula; e a outra é uma consciência individual voltada para si.
Na solidariedade mecânica, o indivíduo está diretamente ligado à sociedade sem que haja intermediário; apresentam-se como um conjunto organizado de crenças e sentimentos comuns a quase todos os componentes; é do tipo consciência coletiva. A sociedade tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam. Já a solidariedade orgânica é chamada de organismo animal. É aquela em que a coletividade resulta de uma diferenciação. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes; é do tipo consciência individual.
Durkheim coloca as sociedades primitivas, arcaicas caracterizadas pela prevalência da solidariedade mecânica, pois a consciência individual decorre do próprio desenvolvimento histórico, cada indivíduo é o que os outros são, não havendo praticamente divisão de trabalho, somente a divisão sexual do trabalho, não existe ainda a propriedade privada nem a diferenciação entre as pessoas. A forma de consciência social existente nessa sociedade se exprime no direito repressivo.
As sociedades onde ocorreu a divisão econômica do trabalho são caracterizadas pela solidariedade orgânica, uma estrutura segmentária, pressupõe uma diferenciação social que possibilita o crescimento da individualidade, ela caminha para a desintegração social, conduz a uma maior coesão social. Nessa sociedade, o indivíduo é visto como uma coisa de que a sociedade dispõe. A consciência social se exprime pelo direito reparador, que possibilita a relação contratual entre as pessoas, e pela moral das corporações de oficio.
Nas sociedades primitivas dominadas pela solidariedade mecânica, a consciência coletiva é maior que a consciência individual. Já nas sociedades onde ocorre a diferenciação dos indivíduos, fenômeno característico da sociedade moderna, é a condição criadora da liberdade individual, ou seja, cada um tem uma maior liberdade, e menos restrições, comparadas a sociedades primitivas.
A consciência individual reina sobre a coletiva. Só numa sociedade onde a consciência coletiva perdeu parte de sua rigidez o indivíduo pode ter uma certa autonomia de julgamento e de ação.
Quanto maior for a consciência coletiva, maior a indignação com o crime, isto é, contra a violação do imperativo social, até chegar a um ponto em que a consciência coletiva se torna particularizada. Por outro lado, quando a solidariedade orgânica reina, observa-se uma redução na consciência coletiva e se constata um enfraquecimento das reações coletivas contra a violação das proibições e uma maior interpretação individual dos imperativos sociais.
É a partir desta análise que Durkheim deduziu a idéia de que o indivíduo nasce da sociedade, e não que a sociedade nasce dos indivíduos. Pois se a solidariedade mecânica precedeu a solidariedade orgânica, não se pode então explicar os fenômenos da diferenciação social e da solidariedade orgânica a partir dos indivíduos. Durkheim discorda dos economistas, que explicam a divisão do trabalho pelo interesse dos indivíduos em compartilhar as ocupações a fim de aumentar a coletividade. Dizer que os homens dividiram o trabalho e atribuíram uma ocupação específica para cada um aumentar o rendimento coletivo, é admitir que os indivíduos são diferentes uns dos outros e conseqüentemente essa diferença vem antes da diferenciação social.
Assim, a consciência da individualidade não podia existir antes da solidariedade orgânica e da divisão do trabalho. A partir disso, Durkheim expõe uma de suas principais idéias: definir sociologia como a prioridade do todo sobre as partes, ou a irredutibilidade do conjunto social à soma dos elementos, e a sua explicação pelo todo. Redefine a divisão do trabalho como sendo uma estrutura de toda a sociedade, em que a divisão técnica ou econômica não é senão uma manifestação.
Para Marx, a sociedade é o conjunto de relações que os homens exercem entre si, e a sociologia é o estudo dessas relações. Para Durkheim a sociedade é o conjunto das instituições e a sociologia é a ciência das instituições e a sua função é garantir a ordem social através do estabelecimento de uma nova moral: a moral científica.
A sociologia deveria explicar e intervir no funcionamento da sociedade, a fim de diminuir os males da vida social. Durkheim definiu Estado como sendo um órgão encarregado de elaborar representações especiais, isto é, o produto das representações sociais e coletivas, ou seja, representações específicas de uma consciência especial. Para ele, essas representações se diferenciam das demais por um grau mais elevado de consciência e reflexão, visando a dirigir a conduta social dos homens, o Estado não cuida dos direitos individuais das pessoas (liberdade/igualdade), não exprime a vontade do povo, não é popular, é superior aos fins individuais.
Para Durkheim, a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).
Seu pensamento é muito pertinente atualmente, uma vez que para resolver as questões que ameaçam este homem moderno individualista, que descreve Durkheim, colocando em risco a sua qualidade de vida hoje conquistada, é necessário que este indivíduo passe a ter um comportamento de senso coletivo para resolver as questões que ameaçam o seu conforto e bem-estar. Se quiser continuar elevando este nível de vida (estamos falando aqui de sociedades de países industrializados e emergentes como EUA, Europa, Japão, Brasil, etc), estas sociedades terão que pensar também na escassez de recursos naturais, o esgotamento destes, a elevação dos preços do petróleo, energia, nas economias emergentes que se tornam novos mercados consumidores agravando ainda mais o problema e nas respostas que a natureza vem dando a tudo isto, como o aquecimento global, por exemplo. Com a transformação dos tempos e a Globalização a sociedade se volta para uma questão urgente e que necessita do envolvimento de todos os países e de toda a sociedade: O Meio Ambiente.
BIBLIOGRAFIA
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2002.
Em tempos atuais é pertinente lembrar as análises sociais que Émile Durkheim já fazia no início do século XX, influenciado pelas conturbações de seu tempo causadas pelas Revoluções Francesa e Industrial. A idéia central de seu pensamento é a de que a humanidade avança para o aperfeiçoamento pela força do progresso. Princípio herdado da filosofia iluminista.
Durkheim desenvolveu um método de investigação dos acontecimentos sociais e estabeleceu um objeto de estudo: os fatos sociais. Ele desejava que a sociologia, como as outras ciências, tivesse um objeto específico que pudesse ser observado e explicado e que a distinguisse das demais (DURKHEIM, 2002).
Fatos sociais são as maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo sobre este, formando assim a consciência coletiva que é a soma de todas as consciências sociais, ou seja, é criada a partir de como a sociedade percebe a si mesma e ao mundo. Define:
"Fato social é toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral do âmbito de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo uma existência própria, independente das suas manifestações individuais" (2002:65).
Uma sociedade pode ser representada pelo direito, pelas instituições, as crenças, tudo que tem igualmente, e como característica, o fato de serem exteriores aos indivíduos e de se imporem sobre todos.
Na obra, "Da divisão do trabalho social" (1893), o autor demonstra claramente a influência de Augusto Conte. O tema central desta é a solidariedade dita mecânica e a orgânica. Antes de analisarmos essa solidariedade devemos ter em mente que dentro de nossa consciência há duas consciências, uma que é coletiva, comum a todo o grupo, isto é, a sociedade vivendo e agindo sobre nós, pressupõe-se individualidade nula; e a outra é uma consciência individual voltada para si.
Na solidariedade mecânica, o indivíduo está diretamente ligado à sociedade sem que haja intermediário; apresentam-se como um conjunto organizado de crenças e sentimentos comuns a quase todos os componentes; é do tipo consciência coletiva. A sociedade tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam. Já a solidariedade orgânica é chamada de organismo animal. É aquela em que a coletividade resulta de uma diferenciação. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes; é do tipo consciência individual.
Durkheim coloca as sociedades primitivas, arcaicas caracterizadas pela prevalência da solidariedade mecânica, pois a consciência individual decorre do próprio desenvolvimento histórico, cada indivíduo é o que os outros são, não havendo praticamente divisão de trabalho, somente a divisão sexual do trabalho, não existe ainda a propriedade privada nem a diferenciação entre as pessoas. A forma de consciência social existente nessa sociedade se exprime no direito repressivo.
As sociedades onde ocorreu a divisão econômica do trabalho são caracterizadas pela solidariedade orgânica, uma estrutura segmentária, pressupõe uma diferenciação social que possibilita o crescimento da individualidade, ela caminha para a desintegração social, conduz a uma maior coesão social. Nessa sociedade, o indivíduo é visto como uma coisa de que a sociedade dispõe. A consciência social se exprime pelo direito reparador, que possibilita a relação contratual entre as pessoas, e pela moral das corporações de oficio.
Nas sociedades primitivas dominadas pela solidariedade mecânica, a consciência coletiva é maior que a consciência individual. Já nas sociedades onde ocorre a diferenciação dos indivíduos, fenômeno característico da sociedade moderna, é a condição criadora da liberdade individual, ou seja, cada um tem uma maior liberdade, e menos restrições, comparadas a sociedades primitivas.
A consciência individual reina sobre a coletiva. Só numa sociedade onde a consciência coletiva perdeu parte de sua rigidez o indivíduo pode ter uma certa autonomia de julgamento e de ação.
Quanto maior for a consciência coletiva, maior a indignação com o crime, isto é, contra a violação do imperativo social, até chegar a um ponto em que a consciência coletiva se torna particularizada. Por outro lado, quando a solidariedade orgânica reina, observa-se uma redução na consciência coletiva e se constata um enfraquecimento das reações coletivas contra a violação das proibições e uma maior interpretação individual dos imperativos sociais.
É a partir desta análise que Durkheim deduziu a idéia de que o indivíduo nasce da sociedade, e não que a sociedade nasce dos indivíduos. Pois se a solidariedade mecânica precedeu a solidariedade orgânica, não se pode então explicar os fenômenos da diferenciação social e da solidariedade orgânica a partir dos indivíduos. Durkheim discorda dos economistas, que explicam a divisão do trabalho pelo interesse dos indivíduos em compartilhar as ocupações a fim de aumentar a coletividade. Dizer que os homens dividiram o trabalho e atribuíram uma ocupação específica para cada um aumentar o rendimento coletivo, é admitir que os indivíduos são diferentes uns dos outros e conseqüentemente essa diferença vem antes da diferenciação social.
Assim, a consciência da individualidade não podia existir antes da solidariedade orgânica e da divisão do trabalho. A partir disso, Durkheim expõe uma de suas principais idéias: definir sociologia como a prioridade do todo sobre as partes, ou a irredutibilidade do conjunto social à soma dos elementos, e a sua explicação pelo todo. Redefine a divisão do trabalho como sendo uma estrutura de toda a sociedade, em que a divisão técnica ou econômica não é senão uma manifestação.
Para Marx, a sociedade é o conjunto de relações que os homens exercem entre si, e a sociologia é o estudo dessas relações. Para Durkheim a sociedade é o conjunto das instituições e a sociologia é a ciência das instituições e a sua função é garantir a ordem social através do estabelecimento de uma nova moral: a moral científica.
A sociologia deveria explicar e intervir no funcionamento da sociedade, a fim de diminuir os males da vida social. Durkheim definiu Estado como sendo um órgão encarregado de elaborar representações especiais, isto é, o produto das representações sociais e coletivas, ou seja, representações específicas de uma consciência especial. Para ele, essas representações se diferenciam das demais por um grau mais elevado de consciência e reflexão, visando a dirigir a conduta social dos homens, o Estado não cuida dos direitos individuais das pessoas (liberdade/igualdade), não exprime a vontade do povo, não é popular, é superior aos fins individuais.
Para Durkheim, a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).
Seu pensamento é muito pertinente atualmente, uma vez que para resolver as questões que ameaçam este homem moderno individualista, que descreve Durkheim, colocando em risco a sua qualidade de vida hoje conquistada, é necessário que este indivíduo passe a ter um comportamento de senso coletivo para resolver as questões que ameaçam o seu conforto e bem-estar. Se quiser continuar elevando este nível de vida (estamos falando aqui de sociedades de países industrializados e emergentes como EUA, Europa, Japão, Brasil, etc), estas sociedades terão que pensar também na escassez de recursos naturais, o esgotamento destes, a elevação dos preços do petróleo, energia, nas economias emergentes que se tornam novos mercados consumidores agravando ainda mais o problema e nas respostas que a natureza vem dando a tudo isto, como o aquecimento global, por exemplo. Com a transformação dos tempos e a Globalização a sociedade se volta para uma questão urgente e que necessita do envolvimento de todos os países e de toda a sociedade: O Meio Ambiente.
BIBLIOGRAFIA
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2002.
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